Carta 19

19. Carta de notícias enviada por Mário Pedrosa a Lívio Xavier. Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1930. Original. 7 folhas. [Livio-1930-02-03]d.-06]

[fl. 1]

3-2-30

Livio

Estou pra lhe escrever, ha quanto tempo!

Esperando sempre poder diser alguma cousa de mais definitivo.
Você deve ter ja visto o tal manifesto – Pela revolução agraria e pela revolução antiimperialista – o tal famoso manifesto dos intellectuaes – sahido na A Classe Operaria. Procuraram as assignaturas de todos os soi-disant intellectuaes revolucionarios etc. Cousa de Mota Lima de accordo com o partido.1O jornalista Pedro Mota Lima, que fundou os jornais A Esquerda (1927) e A Batalha (1929). Ligado ao tenentismo, participou em 1927 das discussões do PCB sobre a possibilidade de uma aliança com a Coluna Prestes e mais tarde filiou-se ao partido. A Classe Operária era o jornal oficial do PCB. Fomos, é claro, procurados por amigos – e não assignamos, é evidente. É typico como miseria ideologica. Não é nem menchevismo. É radicalismosinho vagabundo.

De communismo, de marxismo – nem cheiro. Assignou todo o mundo, desde o Di – e o Neves até o nosso caro Plinio Mello, e o Everardo, o Mendes etc.

É preciso tel-o pra esculhambar.

Saiu tambem a Auto-critica2Por causa das divergências que abalaram o PCB em 1928, a direção criou uma revista de circulação interna, para divulgar teses e posições divergentes como preparação para seu 3º Congresso (29 de dezembro de 1928 a 4 de janeiro de 1929). A Autocrítica, como foi chamada, teve alguns poucos números publicados depois do congresso. com as theses do partido sobre a situação – as perspectivas e palavras de ordem. Você viu? É preciso lel-as. Como ja se vê absolutamente insatisfactorias. Algumas observações rudimentares exactas, algumas conclusões e pontos de vista superficialmente exactos – e muita confusão, erros palmares etc – e tudo muito

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bem enquadrado na linha da Internacional Comunista.

Vamos aqui – agora nos reunir para fazermos 1 estudo e 1 critica seria dos 2 documentos. E depois em conclusão escreveremos 1 contra-these ou cousa que valha. E se possivel – se publicará um folheto. Isso – quando mais não sirva, servirá pra que de futuro fique resguardado o nosso ponto de vista e demarcadas as nossas responsabilidades etc. Você deve ja fazer 1 trabalho parallelo. E depois fasemos 1 trabalho em commum – que receberá as assignaturas de todos que tiverem de acordo ideologicamente etc.

Recebi ha dias 1 carta do Naville. Insiste na collaboração, pede pra renovar as assignaturas do pessoal para Lutte des Classes, diz que o trabalho lá tem se feito com certo sucesso.3Um dos principais organizadores da Oposição de Esquerda Internacional na França, Pierre Naville editava a revista La Lutte de Classes, porta-voz da corrente. Pedrosa tornou-se amigo de Naville durante os anos que passou na Europa e mantinha com ele correspondência constante, principalmente sobre os rumos da oposição. Recebi também ha dias uns numeros do The Militant, orgão da opposição norte-americana. Bem feito. Alias – a opposição norte-americana é maior em numero e melhor em qualidade do que o proprio partido.

Recebeu a brochura que lhe mandei pelo Benjamin?4O poeta surrealista francês Benjamin Péret vivia no Brasil desde o começo de 1929, com sua mulher, a cantora lírica Elsie Houston. Ela era irmã de Mary, mulher e companheira de militância de Pedrosa. Péret militou na Oposição de Esquerda brasileira até o fim de 1931, quando foi expulso do país pelo governo Vargas e se mudou com a família para Paris.

Aparecem por ahi os livros do Istrati: Soviets, 1929 – e La Russie Nue? São 2 livros excellentes com precisão, claresa, objectividade e documentação sobre a Russia. Aliás esses 2 livros – sahiram

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com o nome delle – mas de facto não foram escriptos por elle.5O escritor romeno Panaït Istrati publicou em 1929 sua trilogia Vers l’autre Flame (Rumo à outra chama), em que descreveu os excessos e a arbitrariedade do regime soviético. O primeiro volume, Après seize mois dans l’U.R.S.S, registrou suas impressões dos 16 meses em que viajou pela União Soviética. Os demais, como explica em seu prefácio, eram colaborações que assinava “temporariamente”, para garantir sua divulgação. O segundo volume, Soviets, 1929, era do escritor Victor Serge, que fora expulso do PC em 1928 e sofria perseguições (preso várias vezes, Serge só conseguiu sair do país em 1936, graças a uma campanha internacional por sua liberação). La Russie Nue, o terceiro volume, foi escrito pelo ex-dirigente do PC francês Boris Souvarine, que fora expulso em 1924. É preciso tê-los. Só não te mando – porque ando numa merda monetária completa, absoluta, integral. Mas vou ver se o Antonio Bento manda. O Castro, como sempre hesitante e indecente, não quer nem ouvir falar nisso – porque se compraz com o liberalismo de bom tom de Monde ou com os clichés e a demagogia de L’Humanité.6O crítico de arte Antônio Bento de Araújo Lima e o professor da Faculdade de Direito do Rio Edgar de Castro Rebello, amigos antigos de Pedrosa e Lívio, e os jornais franceses Monde e L’Humanité, que era o órgão oficial do PC Francês.

–– Por falar nisso tudo, você leu o 2º Manifeste du Surrealisme? O ataque ao Naville ja disse aliás ao Peret, não me impressionou em nada. É mais fructo de um certo despeito, ou cousa que valha, contra o Naville, que se separou completamente delles, sem querer saber mais de cousa alguma a não ser a politica etc. E o Breton, fabuloso ogum, ficou por isso com a vaidade um tanto ferida. Mas a parte final do manifesto, eu gostei – e no fundo, é alias, uma concessão – que se estava esperando por ella. É uma especie de Nep surrealista.7O 2º Manfesto do Surrealismo, do escritor André Breton, foi publicado na revista La Révolution surréaliste de 15 de dezembro de 1929. Ao contrário do primeiro, que apresentava a filosofia do movimento com foco na arte, este manifesto era essencialmente político e enfatizava as implicações sociais do movimento. Pedrosa faz uma comparação com a Nova Política Econômica (NEP) adotada em 1921 pela URSS, que restabelecia a liberdade de comércio e o livre uso da terra pelos camponeses. Está bem. Agora – Breton diz 1 cousa ali que não é exacta – e a posição politica delle em relação ao partido e á opposição não é firme. É hesitante e commoda demais. Medo talvez de se comprometter.

Elle insinúa que não se deve concorrer para agravar

[fl. 4] 4

as divergencias que no fundo não são tão graves assim – porquanto viu-se Rakowsky fazer uma declaração conciliatoria, prompto á reconciliação, e Trotzky solidarisar-se com isto. A cousa não foi bem assim. E a prova mais évidente de que a declaração de Rakowsky não foi considerada reconciliatoria e muito menos capitulatoria – é que logo depois della Rakowsky foi deportado pra mais longe e aggravadas as suas condições de exilio e de isolamento. Foi castigado mais duramente por causa de sua famosa declaração dita conciliatoria.8O abandono da NEP e o novo foco no crescimento industrial, aliados às pressões constantes, levaram alguns oposicionistas no exílio interno a acreditarem que se tratava, finalmente, de uma “virada à esquerda” do PC da URSS, entre eles líderes importantes como Ievgueni Preobrajensky, Karl Radek e Ivar Smilga. Quando a capitulação dos três foi anunciada, em julho de 1929, as consequências entre os deportados foram devastadoras: em pânico, desanimados, muitos começaram a vacilar. Nesse ponto, depois de discutir com camaradas, Christian Rakovsky enviou em 22 de agosto uma declaração ao Comitê Central de tom muito moderado, mas firme na reivindicação da libertação imediata dos oposicionistas presos ou deportados e sua reintegração ao PC. A resposta violenta da direção do partido ajudou a realinhar a Oposição de Esquerda, como Pedrosa aponta. Trotsky só recebeu a declaração no fim de setembro e apoiou seu conteúdo político.

A declaração de Rakowsky era só formalmente conciliatoria – pois elle mantinha integraes os principios e as divergencias fundamentaes da opposição.

O tom conciliatorio foi uma manobra para evitar a debandada da opposição quando se deu a capitulação de Radek, Preobrajensky, Smilga – que causou uma impressão profunda de desanimo, de desconfiança no seio da massa opposicionista – espalhada pela Siberia e fragmentada e isolada. Houve 1 verdadeiro desarroi nos meios opposicionistas que, é preciso que se tenha sempre em mente, vivem em condições muito duras – vivem na merda mais absoluta – prisão, fome, isolamento, perseguição etc.9O artigo “Os Trotskistas na União Soviética (1929-1938)”, do historiador marxista Pierre Broué, conta mais sobre a vida e o destino dos oposicionistas na URSS (leia aqui).

Quando viram os chefes se entregarem – foi 1 verda-

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deiro salve-se quem puder – e cada qual tratou de ser o primeiro a se reconciliar, é claro. A declaração de R. veio no momento opportuno. Deu como que uma expressão collectiva a esse estado de espirito. Reagrupou o pessoal, reteve a debandada e fez voltar a confiança do pessoal em alguns chefes, como o próprio R., que resistiram á vaga derrotista e pela sua firmesa salvaram o movimento. Breton devia ter sabido disso tudo pela leitura de La Verité. Será que você não a recebe? É preciso.10O semanário La Vérité, criado por estímulo de Trotsky, tinha a intenção de unificar as discussões e a produção teórica dos vários grupos que se reivindicavam da oposição de esquerda na França. Começou a circular em agosto de 1929 e a maior parte de sua equipe vinha da revista La Lutte de Classes, com Naville à frente.

Outra cousa é a posição de Fourrier: que compareceu ao tal congresso do tal partido alsaciano – que se desligou do Partido Comunista Francês – tendo Hüber, que foi deputado, no fundo 1 social-democrata, alliado ao partido clerical da Alsacia, e hoje – por uma combinação, um cambalacho com os outros partidos burguezes autonomistas conseguiu ser Maire de Strasburg, posto em que se mantem ha mais de um anno, apoiado pelos outros partidos, á frente.11A partir de 1924, a seção alsaciana do PC francês, liderada por Charles Hueber, se aproximou cada vez mais do forte movimento pela autonomia da região. Nas eleições de maio de 1929, Hueber fez uma aliança com os autonomistas, em que abriu mão de várias candidaturas comunistas, mas garantiu o apoio a seu nome e conseguiu se eleger prefeito (maire, em francês) de Estrasburgo. O PCF acabou por expulsá-lo em agosto e a maioria dos militantes locais o acompanhou. Em outubro, o grupo fundou o Partido Comunista da Oposição da Alsácia-Lorena, ligado à oposição de direita. Marcel Fourrier, que defendia a autonomia da região e fora excluído do PCF um ano antes, se juntou ao grupo. Fourrier é 1 sujeito honesto, mas a sua posição politica actualmente é equivoca. Acredito que com o tempo elle se aprumará outra vez – mas por emquanto o Breton não tem razão de contrapol-o ao Naville etc, pois a posição deste é que está certa e a do Fourier que está errada. Etc. Me alonguei nisso por não saber se você está ao par destas cousas.

[fl. 6] 6

O resto do numero de La Rev. é interessante. O artigo do Aragon, muito bom, e insiste justamente em um ponto que acho tambem essencial.12Pedrosa elogia dois artigos do mesmo número da La Révolution surréaliste de que fala antes, ambos de surrealistas militantes do PCF: “Introduction à 1930”, de Louis Aragon, e “Note sur l’argent” (Nota sobre o dinheiro), de André Thirion. Coincidindo athé commigo – que andava pensando escrever alguma cousa naquelle sentido – para sair em qualquer revista que apparecesse agora – Até Cultura – que vae sair agora o numero – e pra quem dei o tal artigo sobre o Keyserling.13O filósofo Hermann von Keyserling, que fez muito sucesso nos anos 1920 e 1930 e deu uma série de conferências no Brasil em 1929. Durante a visita, Oswald de Andrade e outros intelectuais se derramaram em elogios a ele. Já Benjamin Péret escreveu um artigo virulento (“Keyserling, filósofo reacionário?”) que tentou publicar sem sucesso. Pedrosa, pelo visto, ofereceu o artigo à revista Cultura, lançada um ano antes no Rio. O artigo de Thirion está muito bom também. Etc.

––––––––

O Diniz te procurou e levou as revistas? Elle me escreveu dizendo que ia fazel-o.

Por aqui vae se indo. O Antonio diz que desta vez segue mesmo até o fim do mez. A Mary vae bem, e trabalhando na repartição com uma terrivel consciencia de funccionaria! Nunca vi tanta vocação para a burocracia. O resto do pessoal não sei. O Coutinho andou muito doente – com o figado esculhambado. Ja se levantou, e continua a viver. O Azambuja aparece esporadicamente – foi a Minas – não sei se ja voltou. O Castro, naquela alternativa constante entre a arretação e a neurasthenía. Conversando com todo sujeito que encontra, esquecido do que vinha dizendo a outra pesssôa uma sylaba antes. O Hahnemann ins-

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talado, importando livros grossos da Allemanha, marxismo atraves da Universidade, como um importador direto de vinho, fabuloso portuguez rico que tem adega. Recebi 1 carta do poeta Bopp – do Cape-town. Projectos fabulosos misturados com desabafos.14Além de Mary, Antônio Bento e Castro Rebello, Pedrosa cita outros amigos comuns: os companheiros de oposição Rodolfo Coutinho e Wenceslau Escobar de Azambuja, o jurista Hahnemann Guimarães, seu contemporâneo na Faculdade de Direito, e o poeta Raul Bopp, que, com o fim do Movimento Antropofágico, iniciara em dezembro de 1929 uma viagem pelo mundo.

–– Por aqui mais nada.

Ah Sim. Você está ganhando 1 miseria. Baixaram o salario. Você tinha projecto de vir até aqui. Veja se vem. Comida se arranja e quem sabe até dormida.

Vou ensinar num collegio judeu – no Meyer, de que o Mesquita é Secretario. Vou perguntar (o collegio se abre agora) a elle – se não arranja pra você ensinar Inglez e Latim? Talvez, isso lhe dê uns 600 ou 700$. É melhor, não?

––––––

Abrace o fabuloso casal Peret, cuja performance na vida é de facto admiravel e dá vontade a gente de assignar 1 manifesto de solidariedade com elles.

––––
Quanto ao meu fabuloso negocio – nada de novo. Aguarde os acontecimentos. Esperar é a palavra de ordem.

A Mary e o Antonio mandam um abraço.

Adeus. Abraços

Mario.

Notas

1. O jornalista Pedro Mota Lima, que fundou os jornais A Esquerda (1927) e A Batalha (1929). Ligado ao tenentismo, participou em 1927 das discussões do PCB sobre a possibilidade de uma aliança com a Coluna Prestes e mais tarde filiou-se ao partido. A Classe Operária era o jornal oficial do PCB.

2. Por causa das divergências que abalaram o PCB em 1928, a direção criou uma revista de circulação interna, para divulgar teses e posições divergentes como preparação para seu 3º Congresso (29 de dezembro de 1928 a 4 de janeiro de 1929). A Autocrítica, como foi chamada, teve alguns poucos números publicados depois do congresso.

3. Um dos principais organizadores da Oposição de Esquerda Internacional na França, Pierre Naville editava a revista La Lutte de Classes, porta-voz da corrente. Pedrosa tornou-se amigo de Naville durante os anos que passou na Europa e mantinha com ele correspondência constante, principalmente sobre os rumos da oposição.

4. O poeta surrealista francês Benjamin Péret vivia no Brasil desde o começo de 1929, com sua mulher, a cantora lírica Elsie Houston. Ela era irmã de Mary, mulher e companheira de militância de Pedrosa. Péret militou na Oposição de Esquerda brasileira até o fim de 1931, quando foi expulso do país pelo governo Vargas e se mudou com a família para Paris.

5. O escritor romeno Panaït Istrati publicou em 1929 sua trilogia Vers l’autre Flame (Rumo à outra chama), em que descreveu os excessos e a arbitrariedade do regime soviético. O primeiro volume, Après seize mois dans l’U.R.S.S, registrou suas impressões dos 16 meses em que viajou pela União Soviética. Os demais, como explica em seu prefácio, eram colaborações que assinava “temporariamente”, para garantir sua divulgação. O segundo volume, Soviets, 1929, era do escritor Victor Serge, que fora expulso do PC em 1928 e sofria perseguições (preso várias vezes, Serge só conseguiu sair do país em 1936, graças a uma campanha internacional por sua liberação). La Russie Nue, o terceiro volume, foi escrito pelo ex-dirigente do PC francês Boris Souvarine, que fora expulso em 1924.

6. O crítico de arte Antônio Bento de Araújo Lima e o professor da Faculdade de Direito do Rio Edgar de Castro Rebello, amigos antigos de Pedrosa e Lívio, e os jornais franceses Monde e L’Humanité, que era o órgão oficial do PC Francês.

7. O 2º Manfesto do Surrealismo, do escritor André Breton, foi publicado na revista La Révolution surréaliste de 15 de dezembro de 1929. Ao contrário do primeiro, que apresentava a filosofia do movimento com foco na arte, este manifesto era essencialmente político e enfatizava as implicações sociais do movimento. Pedrosa faz uma comparação com a Nova Política Econômica (NEP) adotada em 1921 pela URSS, que restabelecia a liberdade de comércio e o livre uso da terra pelos camponeses.

8. O abandono da NEP e o novo foco no crescimento industrial, aliados às pressões constantes, levaram alguns oposicionistas que estavam no exílio interno a acreditarem que se tratava, finalmente, de uma “virada à esquerda” do PC da URSS, entre eles líderes importantes como Ievgueni Preobrajensky, Karl Radek e Ivar Smilga. Quando a capitulação dos três foi anunciada, em julho de 1929, as consequências entre os deportados foram devastadoras: em pânico, desanimados, muitos começaram a vacilar. Nesse ponto, depois de discutir com camaradas, Christian Rakovsky enviou em 22 de agosto uma “declaração” ao Comitê Central de tom muito moderado, mas firme na reivindicação da libertação imediata dos oposicionistas presos ou deportados e sua reintegração ao PC. A resposta violenta da direção do partido ajudou a realinhar a Oposição de Esquerda, como Pedrosa aponta. Trotsky só recebeu a declaração no fim de setembro e apoiou seu conteúdo político.

9. O artigo “Os Trotskistas na União Soviética (1929-1938)”, do historiador marxista Pierre Broué, conta mais sobre a vida e o destino dos oposicionistas na URSS (leia aqui).

10. O semanário La Vérité, criado por estímulo de Trotsky, tinha a intenção de unificar as discussões e a produção teórica dos vários grupos que se reivindicavam da oposição de esquerda na França. Começou a circular em agosto de 1929 e a maior parte de sua equipe vinha da revista La Lutte de Classes, com Naville à frente.

11. A partir de 1924, a seção alsaciana do PC francês, liderada por Charles Hueber, se aproximou cada vez mais do forte movimento pela autonomia da região. Nas eleições de maio de 1929, Hueber fez uma aliança com os autonomistas, em que abriu mão de várias candidaturas comunistas, mas garantiu o apoio a seu nome e conseguiu se eleger prefeito (maire, em francês) de Estrasburgo. O PCF acabou por expulsá-lo em agosto e a maioria dos militantes locais o acompanhou. Em outubro, o grupo fundou o Partido Comunista da Oposição da Alsácia-Lorena, ligado à oposição de direita. Marcel Fourrier, que defendia a autonomia da região e fora excluído do PCF um ano antes, se juntou ao grupo.

12. Pedrosa elogia dois artigos do mesmo número da La Révolution surréaliste de que fala antes, ambos de surrealistas militantes do PCF: “Introduction à 1930”, de Louis Aragon, e “Note sur l’argent” (Nota sobre o dinheiro), de André Thirion.

13. O filósofo Hermann von Keyserling, que fez muito sucesso nos anos 1920 e 1930 e deu uma série de conferências no Brasil em 1929. Durante a visita, Oswald de Andrade e outros intelectuais se derramaram em elogios a ele. Já Benjamin Péret escreveu um artigo virulento (“Keyserling, filósofo reacionário?”) que tentou publicar sem sucesso. Pedrosa, pelo visto, ofereceu o artigo à revista Cultura, lançada um ano antes no Rio.

14. Além de Mary, Antônio Bento e Castro Rebello, Pedrosa cita outros amigos comuns: os companheiros de oposição Rodolfo Coutinho e Wenceslau Escobar de Azambuja, o jurista Hahnemann Guimarães, seu contemporâneo na Faculdade de Direito, e o poeta Raul Bopp, que, com o fim do Movimento Antropofágico, iniciara em dezembro de 1929 uma viagem pelo mundo.

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